Invisibilidade Transmasculina

Através de muita luta, a (in)visibilidade transgênero tem sido modificada nos últimos anos. É indiscutível que existem, hoje, muito mais personagens e personalidades trans conhecidas, seja no meio queer ou no meio não-queer. Apesar disso, a comunidade trans está longe de ser realmente reconhecida, sentimento que se intensifica ao analisar a situação através da perspectiva de pessoas transmasculinas, isto é, que são do gênero masculino, mas que foram erroneamente designadas como sendo do gênero feminino ao nascerem.

Houve um aumento de personagens e personalidades trans na mídia, seja em séries como Pose, Euphoria e Orange is the New Black, seja em posições de destaque na vida real, como Linn da Quebrada, que obteve uma torcida imensa no BBB 22, ou Erika Hilton, eleita deputada federal em 2022, juntamente com mais 3 mulheres trans (Duda Salabert, Linda Brasil e Dani Balbi).

Essa crescente, no entanto, se mostra muito mais fraca para o lado das pessoas transmasculinas, que têm obtido um aumento lento de personagens, como em Fanfik, Guardiões da Mansão do Terror e The Umbrella Academy — que, interessa pontuar, não teria um personagem trans se um dos atores não tivesse se descoberto trans durante as gravações —, mas quase nenhuma posição de destaque na vida real, seja na política ou não. 

No Brasil, nunca houve um interesse público acerca das pautas transmasculinas, e o único transmasculino eleito para um cargo político no Brasil foi Thammy Miranda (PL), em 2020, não havendo mais nenhum homem ou pessoa não-binária do espectro masculino de gênero após isso. Pautas mais gerais, como a retificação de nome e gênero, têm sido discutidas, mas pautas específicas, como a saúde transmasculina — ginecologia masculina, risco do binder, questões hormonais etc —, são diariamente ignoradas ou postas na mesma caixinha dos cisgêneros. 

É impossível mensurar o número de transmasculinos em universidades ou empregados, visto que as poucas pesquisas não fazem a diferenciação entre as inúmeras possibilidades de gênero da comunidade trans. Tal questão, no entanto, mostra como a cisgeneridade faz questão de empurrar toda uma variedade de pessoas para dentro de uma mesma caixinha, mais uma vez apagando as múltiplas identidades existentes.

Já na própria comunidade, é comum ver o apagamento transmasculino em forma de genitalismo, principalmente nos meios aquileano — isto é, homens que se atraem por homens, sendo eles gays, bissexuais, pansexuais etc — e sáfico — mulheres que se atraem por mulheres, sejam elas lésbicas, bissexuais, pansexuais etc.

Toda essa invisibilidade não apenas revela como a cisgeneridade se esquece da existência transmasculina (e trans como um todo), mas impacta diretamente no psicológico de todes que se identificam desta forma. Devido a isso, homens trans têm um alto índice de ideação e tentativa de suicídio, fato que só irá mudar quando a sociedade deixar de negligenciar todo um grupo com base em puro e simples preconceito. Que a luta permaneça avançando e que pessoas transmasculinas tenham espaço para construir e existir.


Referências:


Ficha técnica:

Escrita: Viktor Bernardo Pinheiro
Revisão: Lara Moreno