Ao mesmo tempo em que a sociedade avança grandes passos quanto à representatividade e local de fala na atualidade, ela também tem a capacidade de agir de maneira totalmente retrógrada a respeito da representação de seus próprios indivíduos. Ela peca em diferentes aspectos, especialmente ao não servir a estas pessoas seus espaços para que narrem sobre sua própria história ou sobre elementos de sua comunidade.
Para a postagem de hoje, traçamos uma linha entre representação e representatividade lésbica, e contaremos um pouco sobre o tratamento de autories e personagens lésbicas na literatura.
Representação e representatividade lésbica
Embora as palavras pareçam semelhantes ou até mesmo sinônimas uma da outra, existem diferentes camadas que separam representação de representatividade. Num primeiro momento, conseguimos vê-las como maneiras de representar algo ou alguém ― e, francamente, não está errado pensar desta maneira.
Contudo, englobando toda a comunidade LGBTQIA+, não só a lésbica, a representação sem elementos realmente representativos acaba por se tornar um verdadeiro desserviço narrativo. Ficou confuso? Ok! Vamos descomplicar: representar a um todo de maneira realmente representativa vai além de aparecer ou estar em uma obra; representatividade fala sobre desenvolvimento e correspondência ao que ela se propõe a ser. Ou seja, representar uma ou mais pessoas LGBTQIA+ não está somente em dizer que elas existem, mas também em dar importância à sua história, sem estereótipos ou padronização.
Há muito ― e mesmo nos dias de hoje ―, personagens LGBTQIA+, especialmente personagens gays e lésbicas, surgiam em uma narrativa unicamente para serem odiades pelo público ― como vilanes, por exemplo. A problemática não está em existir ou não vilanes da comunidade, entretanto; ela está em lhes usar apenas com o propósito de ser alguém ruim, para que outrem ― em sua maioria, homem, cisgênero, hétero, branco e sem deficiência ― seja boe. Isso vale tanto para questões de gênero e sexualidade, como também para questões raciais (um bom exemplo é a vilanização/marginalização de pessoas pretas ou racializadas de modo geral).
Mas e sobre a comunidade lésbica?
Por toda a história, escritories lésbicas foram marginalizades e apagades no espaço da literatura. Um bom exemplo a citar no meio literário brasileiro é Cassandra Rios, pseudônimo de Odette Pérez Rios, escritora brasileira perseguida pela ditadura militar e recordista em vetos durante o regime, com 36 de seus 50 livros censurados ― fora edições clandestinas. Contudo, mesmo muito impedida de expor suas obras literárias, Cassandra foi a primeira escritora a atingir, em 1970, a marca de um milhão de exemplares de seus livros vendidos, superando nomes como Jorge Amado e Érico Veríssimo.
E tal como as pessoas por trás de suas obras, personagens parte da comunidade lésbica também sofrem pela invisibilidade, má representação/desenvolvimento e hiperssexualização. Isso se deve às suas histórias estarem majoritariamente em mãos que não as representam verdadeiramente.
Ainda que os tempos sejam “outros”, a literatura continua como um campo misógino e lesbofóbico, onde somente homens cisgênero, brancos e heterosexuais recebem prestígio.
Referências:
- Escritoras lésbicas buscam mais espaço e representatividade na literatura
- LGBTQIA+ e Literatura: uma conversa sobre representatividade e representação
- Representatividade versus Representação: a apresentação de personagens lésbicas – Portal Arcanas
- O ressurgimento de Cassandra Rios, a escritora mais censurada do Brasil – Marco Zero Conteúdo.