Spacey Indica – Teratopixel

Teratopixel é assexual e artista de pixel art!

Uma ilustração, em pixelart, de Teratopixel. Uma pessoa branca, de cabelos curtos cor verde água e olhos castanhos, veste uma camiseta marrom, casaco preto e calça jeans, com um cinto preto enfeitando. Ela está de braços cruzados e sorri de leve.

“Sou aquilo que acontece quando se deixa uma artista entediada com um computador com Paint, mas sem internet.”

Como você se interessou pela pixel art?

Como eu acredito que aconteça com a maioria das pessoas, por causa de videogames. Os meus jogos favoritos da infância tinham gráficos em pixel art e os que eu jogo hoje em dia também; então eu acho no mínimo natural que eu desenvolvesse um carinho por essa estética, que também tem um quê de nostalgia pra mim.

Como desenho desde criança, eu já tinha bastante experiência com arte tradicional quando comecei a experimentar com pixel art; no início eu só brincava de editar sprites de jogos antigos no paint, usando o mouse, era trabalhoso e ficava meio tosco, mas foi um bom aprendizado. Eventualmente eu consegui uma mesa digitalizadora e decidi tentar aprender arte digital, só pra descobrir que eu simplesmente não conseguia me entender com programas tipo Photoshop e afins. Parecia que toda a minha bagagem de desenho e pintura não serviam pra nada ali; quanto mais eu tentava aprender, mais desnecessariamente complicados aqueles programas me pareciam, então eu acabei desanimando daquilo, pelo menos temporariamente.

Foi durante a pandemia que eu voltei a brincar com pixel art, porque estava precisando de alguma coisa pra ocupar minha cabeça. Comecei a pesquisar programas gratuitos dedicados à pixel art e foi assim que eu descobri o Piskel, que eu uso até hoje: Sendo um programa especializado, ele era melhor que o Paint, mas também não era complicado demais(pelo menos pra mim) como os outros programas de arte digital. Com poucas funções, ele tinha tudo que eu precisava, então eu pude “pular” – ou pelo menos, reduzir consideravelmente – aquela etapa chata e longa de ficar aprendendo as funções do programa pra ir direto à prática da arte. Assim eu voltei a desenhar pixel art, e meio que não parei desde então.

Quais as principais dificuldades de trabalhar com esse formato de arte?

Quanto mais de perto você olha pra um desenho em pixel art, menos sentido ele faz, porque você começa a ver que são só um monte de quadradinhos que não se parecem com muita coisa. Pense nos gráficos pixelados dos jogos antigos: eles foram feitos para serem vistos de uma certa distância, em televisões de tubo, que suavizavam as bordas dos pixels e davam a eles um ar menos quadradão e mais “orgânico”.

Hoje em dia nós usamos outros tipos de telas, então desenhar em pixel art é, de certa forma, como montar um mosaico minúsculo e você não tem como misturar as cores e fazer um degradê suave entre as cores como você faria, por exemplo, com tintas sobre uma superfície qualquer. São desenhos bastante demorados de se fazer e qualquer erro, qualquer pixel “fora do lugar” neles chama muita atenção.

Você trabalha com outros estilos de ilustração?

Sempre desenhei de forma tradicional, e tenho experiência com lápis de cor, tinta acrílica e aquarela, que é de longe a minha técnica de pintura convencional preferida. Hoje em dia eu não pinto tantas aquarelas, e isso em grande parte é por causa do preço dos materiais; não dá pra usar ctrl+z em papel, então se você fizer besteira, já era. Mas eu ainda gosto muito dessa técnica, e gostaria de voltar a praticá-la com mais frequência no futuro.

Como a comunidade queer influenciou sua jornada artística e pessoal?

Eu diria que meu olhar sobre os temas e personagens que represento nos meus desenhos; quando a gente convive com pessoas muito diversas, sua visão de beleza começa a se expandir um pouco pra além de padrões muito engessados. Esse olhar mais aberto me permitiu ser mais gentil comigo mesma e também com os outros.

Arte não é (só) sobre beleza e é claro que esses padrões ainda me influenciam, afinal, sou bombardeada por eles todos os dias, de uma forma ou de outra; ainda assim, não posso negar que o meu contato com a comunidade LGBT+ deixou a minha mente mais aberta com relação a vários assuntos. Com a arte e o processo criativo não teria porque ser diferente.

Você acredita que a arte pode ser uma forma de expressão importante para a comunidade LGBTQ+?

Sem dúvida. Historicamente a arte sempre foi um meio de catarse pras pessoas que sofriam (e sofrem) alguma forma de opressão, e hoje em dia não é diferente. Então eu não diria que é só importante; eu diria que é essencial.

Você faz artes para a LGBTQ+Spacey. Pode falar um pouco sobre a experiência?

Um pouco intimidador no começo, porque eu não tinha experiência como ilustradora e não sabia se meu trabalho ficaria “à altura” da demanda, mas com o tempo fui ficando mais à vontade. E tem algo de interessante em desenhar um mesmo personagem (no caso a Stacey, mascote do coletivo) várias vezes, porque dá pra ver como o seu estilo vai evoluindo, então é muito satisfatório. Além disso, a equipe da Spacey me acolheu muito bem, e por isso tem sido uma experiência bastante enriquecedora.

Como é o processo criativo por trás de suas criações de pixel art? Você tem alguma técnica ou abordagem especial?

Varia um pouco dependendo do tipo de desenho, mas sempre começa com uma busca por referências visuais, geralmente fotos de pessoas e animais, quando vou desenhar personagens, mas eu tendo a juntar referências pra todos os elementos importantes do desenho: roupas, objetos, lugares, etc.

Eu geralmente começo com um esboço, é um negócio bem rabiscado e feio, mas é pra eu ter uma noção das formas e do “movimento” básico da imagem. O programa que eu uso serve para animações, então você pode criar vários “quadros” do mesmo desenho; em vez de usar isso pra animação, eu faço o esboço no primeiro quadro e começo a desenhar pra valer no quadro seguinte, já acrescentando cores, luz e sombra. Depois eu vou criando cópias do mesmo desenho e vou acrescentando detalhes e cores diferentes em cada uma, e assim eu escolho qual quadro ficou melhor e continuo com ele, apagando os anteriores. Esse processo continua até eu terminar o desenho.

Como você equilibra suas produções com as demandas e expectativas do mundo da arte, em especial sendo TDAH?

Apesar de desenhar desde criança, essa iniciativa de realmente mostrar meus trabalhos na internet é muito recente. Por conta disso, a “demanda” hoje em dia é muito pequena e tende a ser mais interna do que externa: O desejo de melhorar minhas habilidades, de ter minha arte vista por mais pessoas, de encontrar clientes, etc.

Meu ritmo de trabalho sempre foi um tanto caótico e a falta de compromissos na época – exceto com o curso de Artes Visuais e comigo mesma – tendia a deixar isso um pouco pior. No passado cheguei a passar meses – e em certo momento mais de um ano – sem desenhar, e eu não gostaria de ficar assim de novo.

O fato de eu estar tratando meu TDAH hoje em dia faz toda a diferença, de forma que eu consigo desenhar um pouco praticamente todo dia. Algumas pessoas temem que a medicação vá influenciar negativamente a criatividade da pessoa, mas para mim foi o completo oposto: Tenho mais motivação e consigo terminar a maioria dos meus desenhos.


Siga Teratopixel: