Travesti é uma identidade latino americana que categoriza pessoas que foram designadas como sendo do gênero masculino ao nascerem (AMAB), porém se identificam com um gênero alinhado ao feminino e com o termo, que só existe dentro da américa latina e não possui uma tradução fora dela.
Travesti ou mulher trans?
Em primeiro lugar, é importante se livrar da ideia errada de que a diferença entre os termos seria “a relação que a pessoa estabelece com o próprio genital, sendo uma mulher trans a que tem aversão ao próprio pênis, enquanto a travesti seria a que consegue lidar com ele”.
Essa ideia é extremamente problemática. Primeiramente, ela é errada por ignorar completamente a identidade da pessoa, centrando os debates da transgeneridade somente à genitália, invalidando toda uma luta e se recusando a perder a visão cisgênera de que gênero tem alguma relação com órgão genital.
Além disso, ela ajuda a criar uma hierarquia de identidades, na qual a mulher trans seria a que “nasceu no corpo errado” (frase completamente errada e ofensiva; é sempre importante lembrar que todos os corpos são válidos), a que é trans “de verdade” (já que pretende conseguir a genital que “mulheres de verdade” possuem, e assim “alcançar a cisgeneridade”), e a travesti seria apenas uma figura “fetichista, depravada, marginal e drogada”.
Isso tudo é apenas fruto de imposições de pessoas cis, tentando definir o que seria a diferença entre ambas a partir da percepção dessas pessoas. Por isso, é importante que ao tentar entender a vivência de pessoas trans, seja sempre consultada a validade das informações com pessoas trans e, ainda, com pessoas trans que tenham propriedade acerca do que estão falando.
O resultado dessa infeliz categorização da sociedade é que a palavra travesti é carregada com uma conotação pejorativa, sendo associada a pessoas que estão à margem, muito ligada a prostituição, violência, trabalho sexual, roubo e morte, discriminando a identidade.
O termo “Mulher trans” surge depois de travesti, com a intenção de soar um pouco mais “higienizado” e binarizar a identidade das travestis. É utilizado abertamente pela midia, enquanto o termo “travesti” ainda assusta boa parte das pessoas cis.
Muitas travestis adotam o termo para ressignificá-lo, como uma forma de ativismo, sendo assim um termo usado não apenas como identidade, mas também como posicionamento político, especialmente por não reproduzir a lógica da binaridade, mas também pela demarcação do espaço social e para naturalizar a ideia do termo.
É importante fazer com que travestis ocupem espaços na sociedade, como universidades e empregos que vão além de servir de mão de obra, para que assim elas possam ser naturalizadas.
Mas, afinal, qual a diferença entre os dois?
Mulher trans é uma identidade feminina que (normalmente) está dentro da binaridade de gênero, ou seja, as classificações homem e mulher.
Nem toda travesti se reconhece enquanto mulher trans. Algumas se reconhecem somente enquanto travestis, enquanto outras se reconhecem dentro dos dois termos.
É importante tratar e respeitar travestis como travestis, e não como mulheres trans. Tentar normatizar identidades dentro do próprio entendimento é sempre errado, e, no caso, além de apagar a identidade, é apagar a sua história de resistência durante a ditadura, e apagar ainda a existência de corpos que se veem além da binariedade.
Quem pode se denominar Travesti?
Somente pessoas que foram designadas como homens ao nascer e que se identificam com a identidade travesti. Não deve ser utilizada por mulheres cis ou por homens cis para “dar close”. A travestilidade não é um adereço, mas uma identidade, e deve ser respeitada como tal. Homens trans também não devem se denominar como travesti, afinal, é uma identidade transfeminina.