Abuso de Medicamentos Psiquiátricos por Pessoas Neurotípicas

Com avanços em diversas áreas da saúde, dando ênfase para a psiquiátrica, e maior conscientização sobre questões referentes à saúde mental, é esperado que as pessoas passem a se preocupar e cuidar melhor dessa parte de suas vidas.

Devido ao modo como nossa sociedade opera, em que o engajamento frenético em atividades acadêmicas e profissionais é incentivado frequentemente, a sobrecarga mental é uma consequência comum, trazendo consigo outros males para a vida dos indivíduos (ansiedade, estresse, depressão, insônia, etc). Sofrer com ansiedade ou quaisquer sintomas do tipo não significa que a pessoa que os experimenta possui algum transtorno, afinal muitos deles são respostas normais do nosso cérebro para determinadas situações. É importante se atentar sobre como essas emoções/sintomas afetam no dia a dia e buscar maneiras de deixá-las sob controle, para que não haja comprometimento de tarefas, compromissos e relacionamentos.

Entretanto, mesmo que seja reconhecida a importância de cuidar da saúde mental, a visão enraizada de que o indivíduo se torna descartável quando não está apto a cumprir com o funcionamento do nosso sistema capitalista (isto é, gerando lucro) faz com que a atenção ao psicológico seja deixada em segundo plano, levando a busca por um tratamento rápido, fácil e eficaz.

É aí que os medicamentos psicotrópicos entram. Esses são procurados e consumidos como uma forma de aliviar os desconfortos psíquicos e suas manifestações físicas, por vezes substituindo terapias e consultas com profissionais da área (psicólogos e psiquiatras) devido à sua aquisição relativamente mais acessível financeiramente e também pela melhora obtida em um curto período de tempo.

O fácil acesso à medicação pode parecer uma vantagem, mas na verdade traz uma série de problemas, já que a regulamentação para saber se a pessoa que o solicita através de receita está tendo seu tratamento acompanhado por um profissional é baixa. Há casos em que os usuários alteram as doses ou interrompem o tratamento por conta própria. Também é comum ver pessoas utilizando os remédios por indicação de conhecidos que fazem uso formal ou por profissionais que não alertam o suficiente sobre os efeitos colaterais do consumo de tal medicação. Esses descuidos podem transformar os fármacos, uma vez eficazes, em algo similar ao consumo de drogas ilícitas, já que o uso inadequado pode resultar em: abstinência, tolerância (precisar de doses cada vez mais altas pois as anteriores não surtem mais efeito), alterações no humor, na saúde física e no desenvolvimento de um vício. Os riscos aumentam no caso de pessoas neurotípicas, isto é, pessoas que possuem um sistema neurológico desenvolvido e funcionando de forma “padrão”.

Por mais que esses medicamentos cumpram suas funções e sejam realmente eficazes em tratamentos, eles apenas são capazes de aliviar os desconfortos a curto prazo, sem os combater em suas raízes. Os efeitos acabam sendo muito menos satisfatórios em pessoas que não sofrem da comorbidade que o remédio se dispõe a tratar. Um exemplo seria o uso da Ritalina acreditando que melhora a concentração, sem que ê usuárie tenha TDAH.

As consequências desse consumo desenfreado sem uma necessidade real acarretam em escassez do produto nos estoques, aumento de preço e uma regulamentação mais rígida (que é algo bom em certo ponto, mas que atrapalha mais quem realmente precisa da medicação).


Referências


Ficha técnica

Escrita: Chenny
Revisão: Nico Baladore e Ingredy Boldrine