A comunidade LGBTQIA+ acolhe e conversa sobre toda orientação e identidade que não faça parte das normas da sociedade, tornando as lutas dessas pessoas visíveis e respeitadas. Decerto, os movimentos dentro da comunidade enfrentam conflitos individuais e coletivos a todo instante diante daqueles que não se afastam ou admitem seus privilégios inegáveis.
A cisnormatividade, por exemplo, é um dos pilares onde pessoas com privilégios se erguem. Mas o que é ela? Quais os seus efeitos sobre quem não se encaixa nela? E, por fim, a cisnormatividade é transfóbica?
O que é cisnormatividade?
A cisnormatividade é o conceito de que a sociedade é moldada para uma existência cis, valorizando aquelus que se identificam com o gênero que lhes foi designado ao nascer. Assim, tudo aquilo que foge dessa norma não é contemplado por direitos ou pelo respeito daquelus que estão incluídes nela.
Por efeito disso, há a constante invasão e desumanização de corpos transgênero, na qual pessoas trans, por exemplo, se tornam obrigadas a justificar o próprio gênero a todo tempo e/ou se parecerem o mais “cis” possível — e em muitas das vezes todas as dificuldades transfóbicas voltarão a ressurgir assim que a cisgeneridade reconhecê-las enquanto trans.
A cisnormatividade é transfóbica?
A resposta é, naturalmente, sim. Refletir sobre o quanto pessoas transgênero são colocadas em situações que jamais caberiam a pessoas cisgênero já é o bastante para explicar isso.
De perguntas invasivas a associações de gênero à genitália, a estrutura cisnormativa tem como intuito garantir que a transgeneridade não seja vista como algo natural, e a cisgeneridade passa a precisar fazer esforço para incluí-la.
Associar identidades de gênero a genitálias de modo involuntário é um exemplo claro de como a cisnormatividade age, tornando corpos cis como o “padrão” — por isso, inclusive, há a necessidade de nomear a cisgeneridade, quebrando a associação, ingênua ou não, de que ela seria o “normal”.
Assim como toda norma social, a cisnormatividade é estabelecida de modo que questioná-la se torna inconcebível para determinados grupos. Sua presença está desde os conteúdos mais consumidos, como novelas, séries, filmes, livros e jornais, a como alguém se apresenta socialmente, seja por aparência física ou vestimenta.
Todos os âmbitos sociais são organizados em um campo binário e cisnormativo, onde solicitar e/ou fornecer inclusão e informação é considerado inimaginável e absurdo — muitas vezes, visto como ideologia.
Ambientes e pessoas despreparadas, produtos divididos entre feminino e masculino, dificuldade ao procurar emprego. No fim, até mesmo aliades reproduzem falas e atitudes problemáticas. A transfobia da cisnormatividade ocorre a partir do momento em que a existência trans se torna insignificante, e a inclusão da comunidade em lugares e pautas é um passo importante para mudar isso.