Ser lésbica significa uma luta constante contra estereótipos e preconceitos, principalmente por se tratar de uma sexualidade que diz respeito a pessoas majoritariamente de gênero feminino que se relacionam afetiva e sexualmente com outras pessoas deste espectro de gênero. Pessoas lésbicas são submetidas a múltiplos preconceitos interligados em relação a sexualidade, gênero, raça e classe. A seguir, uma lista com alguns estereótipos comumente associados à vivência da lesbianidade e o porquê de eles não contemplarem essa sexualidade tão diversa em sua experienciação:
Ter se relacionado com um homem não te faz menos lésbica
Muitas lésbicas já se relacionaram com homens em algum momento de suas vidas. Isso se dá muito pela imposição social do modelo cis hétero allo como o ideal de relacionamento. Em várias situações, a pessoa sabe que aquela relação não a contempla, mas mesmo assim se sujeita a essa experiência por inúmeros motivos, geralmente para evitar a exclusão e o preconceito. Se descobrir lésbica após se relacionar com um homem (ou mais) não é nada mais nada menos do que uma etapa no processo de autodescoberta.
Nem toda lésbica é masculina
Essa percepção se dá pela falta de conhecimento acerca da diferença entre sexualidade e identidade de gênero. Quando se tem a visão de que cada gênero deve ter preferências românticas/sexuais e traços de personalidade específicos, é comum que surja a noção de que uma pessoa do gênero feminino se relaciona com outras pessoas deste espectro por se identificar com as características e querer desempenhar os papéis tidos socialmente como “do homem”, que incluem a atração gênero guiada. Porém, a forma como uma pessoa se expressa através de vestimentas e gostos nada diz sobre como ela se identifica sexualmente, e associar lesbianidade a masculinidade contribui muito para a invisibilização de lésbicas que adotam um estilo mais feminino, sendo frequentemente tratadas como sendo “menos lésbicas” por conta disso.
Lésbicas podem até ser ‘emocionadas’, mas isso tem explicação
Uma crença aparentemente inofensiva, que foi inclusive adotada e transformada em piada pela própria comunidade. Realmente, muitos casais lésbicos dão grandes passos, como começarem a morar juntos ou se casarem, com pouco tempo de relacionamento. Porém, isso diz muito sobre a realidade violenta que muitas pessoas lésbicas e seus relacionamentos enfrentam. A não aceitação da família e o medo da retaliação pública faz com que casais sáficos não desfrutem da mesma privacidade e segurança que casais hétero para viverem as intimidades de um relacionamento. Por isso, dão grandes passos em um relacionamento com curto período de tempo, buscando apoio e conforto na companhia afetiva.
Nem toda lésbica é mulher cis
Quando se pesquisa o significado da palavra “lésbica” na internet, a definição apresentada é “mulher que sente atração e se relaciona sexual e romanticamente com outras mulheres”. A lesbianidade, porém, não contempla só as vivências de mulheres cis que se atraem por outras mulheres cis. Mulheres trans, pessoas gênero fluído, agênero, bigênero e de demais identidades do espectro não-binário também podem ser lésbicas: basta se identificarem com o termo enquanto pessoas que se atraem por aquelus com alinhamento de gênero feminino ou neutro.
Relacionamentos lésbicos não são mais igualitários
Devido à alta incidência de violências contra a mulher dentro de relacionamentos íntimos e a sua relação com os estereótipos de gênero, surge a visão da mulher como fadada a sempre ser a vítima, incapaz de perpetuar qualquer tipo de abuso. Então, isso significa que um relacionamento entre duas pessoas do gênero feminino, por ser composto por pessoas que compartilham de vivências e processos de socialização similares, é livre de violências? Não. Pessoas de todas as sexualidades estão suscetíveis a terem relacionamentos abusivos, pois comportamentos tóxicos não são uma questão de gênero, e sim de caráter.
Lésbicas podem ter amizades com outras mulheres
Não é porque se atraem por mulheres e pessoas alinhadas ao feminino que, automaticamente, lésbicas vão enxergar em todas elas o potencial para a construção de uma relação. O que desperta a atração sexual e romântica por alguém é particular de cada um: acreditar que lésbicas não tem critérios e preferências se tratando dessas questões é atribuir a essa sexualidade mais um comportamento e uma visão associados ao jeito que homens cis hétero costumam enxergar mulheres.
Referências
- O estereótipo sapatão: visibilidade, lesbofobia e feminilidade – Blogueiras Negras
- A importância da visibilidade lésbica no combate a estereótipos e à discriminação – Gerador
- Documentário Velcro – Projeto Velcro
- A (in)visibilidade lésbica no Brasil – LexLatin
- ‘Sou sapatão e não um mesclado de estereótipos’ – AzMina
- Lesbianidade, representatividade e estereótipos: uma entrevista com Silmara Takazaki – PodCriticar
- O que as lésbicas não aguentam mais ouvir – e por que elas se ofendem – donna
Ficha técnica
Escrita: Chenny
Revisão: Brian Abelha e Beatriz Janus
