Neste dia 19 de abril celebramos o dia nacional do indígena, resultado do I Congresso Indigenista Interamericano, ocorrido entre 14 e 24 de abril de 1940, em Patzcuaro, no México. A data foi escolhida por estar diretamente ligada ao dia em que representantes indígenas decidiram participar realmente do evento, após dias evitando as atividades no congresso, temendo que fossem manipulades por ês representantes dos governos nacionais.
Entretanto, no Brasil, a comemoração foi oficializada por meio do Decreto-lei nº 5.540, de 2 de junho de 1943, com a finalidade de mostrar à população como os povos indígenas contribuíram com a sua formação e de valorizar suas práticas culturais.
Para a postagem de hoje, no entanto, não falaremos sobre a comemoração em si, mas sim sobre um termo, uma personalidade e seu legado em específico: o indígena Tibira do Maranhão.
Quem foi Tibira do Maranhão?
A princípio, “Tibira” é um termo indígena usado para se referir a um indivíduo homossexual; não existem registros com seu nome verdadeiro, mas sabe-se que era da etnia Tubinambá, sua figura é lembrada como o primeiro ou o mais antigo caso de homofobia no Brasil. O sociólogo e antropólogo Luiz Mott foi o responsável por resgatar esta história e por dar ao indígina o nome de Tibira do Maranhão. Em seu livreto São Tibira do Maranhão ― Índio Gay Mártir, ele conta sobre a execução de Tibira, relatada pelo frade franciscano Yves d’Évreux, e a contextualiza.
Desde a publicação desta história, Mott buscou trazer visibilidade ao episódio e ganhou apoio de um religioso arcebispo primaz da Santa Igreja Celta do Brasil, que diz reconhecer o martírio e a santidade do indígena. Grupos ativistas LGBTQIA+ também divulgam a importância de sua memória.
Historicamente falando…
A execução de Tibira, datada em 1614, fez parte da colonização francesa no Maranhão, ocorrida entre 1612 e 1614, e foi relatada por Évreux, em “Viagem ao norte do Brasil feita nos anos de 1613 a 1614”. Nestes escritos, o frade descreve o ocorrido como uma maneira de “purificar a terra de suas maldades”, por meio do Evangelho e da Religião Católica.
Esta ideia de purificação já estava instaurada entre os capuchinhos ― religiosos pertencentes a uma das ordens franciscanas reformadas ― franceses como algo preciso em sua missão no Brasil. Também, ao serem catequizades por ês religioses, ês própries indígenas se tornaram aliades.
Inclusive, mesmo depois de ser sentenciado à morte, Tibira teve o “direito” de ser batizado com o argumento de que, se aceitasse, “apesar de sua má vida passada, iria direto para o Céu apenas se sua alma se desprendesse do corpo”.
Coletivo Tibira
O Coletivo Tibira, a primeira mídia do Brasil totalmente dedicada à pauta indígena LGBTQIA+, é parte importante do legado deixado pela história de Tibira. Jovens de diferentes etnias, como Tuxá, Boe Bororo, Guajajara, Tupinikim e Terena, usam o coletivo como canal para demais narrativas indígenas de gênero e sexualidade.