Arromanticidade e Não-monogamia

Durante anos, diversas sociedades construíram modelos de relacionamentos baseados no desenvolvimento das suas próprias relações sociais. Levando em consideração que essas relações fazem parte de uma configuração sociocultural, deve-se atentar também às relações de produção de cada sociedade.

Numa sociedade feudal, por exemplo, têm-se formas de se relacionar próprias desse tipo de sociedade, formadas principalmente através do seu modo de produzir, tanto bens materiais, alimento, vestuário, etc., quanto em relação à sua própria cultura e do seu entendimento. Portanto, entende-se que as construções sociais não se compreendem a partir de uma análise cultural individual, mas pelas relações de produção entre as pessoas. 

Segundo o escritor alemão Friedrich Engels, a estrutura monogâmica de relacionamento está diretamente ligada ao surgimento da propriedade privada. A monogamia, então, não seria apenas o ato de se relacionar apenas com uma pessoa, mas sim uma estrutura de dominação sobre outra pessoa. Vale lembrar que o conceito de “propriedade privada” (diferente da propriedade privada capitalista) surge durante o regime escravista de produção, em que não havia mais trabalho livre e em comum entre as pessoas daquela sociedade, diferente do modo de produção do “comunismo primitivo”.

Posteriormente, Engels elabora que a constituição da monogamia se deu subtraindo das mulheres a liberdade sexual que elas antes possuíam nas sociedades em que o casamento ocorria entre grupos distintos, isto é, em que as pessoas não se pertenciam a sues parceires unicamente, mas poderiam manter relações com múltiples parceires, desde que pertencentes a um outro grupo.

A não-monogamia surge, então, como uma forma de negação dessa estrutura monogâmica. Por negação, entende-se recusa ao sistema de opressão da monogamia vinculado à ideia de uma pessoa representar a propriedade privada da outra. Isso se dá no campo dos relacionamentos; porém, atualmente na sociedade, têm-se estruturas de normatização que não apenas se utilizam da estrutura monogâmica como opressão sobre outros corpos, mas também da amatonormatividade que se manifesta também como uma estrutura opressiva, porém especificamente sobre atração romântica e pessoas que não a manifestam, levando em consideração, além da monogamia, a cisnormatividade e a heteronormatividade.

A arromanticidade diverge dos modelos de amor romântico difundidos socialmente e se manifesta como uma negação a esses estereótipos e de toda a estrutura amatonormativa. Assim como a não-monogamia, a arromanticidade não impede as pessoas de terem relacionamentos, entretanto são relacionamentos baseados numa configuração diferente da usual. Pessoas arromânticas por vezes optam pelo relacionamento queerplatônico, em que não há necessidade de atração romântica nem sexual das pessoas integrantes do relacionamento, como também pode ser um relacionamento não-monogâmico.

Referências: